Mais do que um político
É engraçado verificar que, mesmo aos noventa anos, Mário Soares continua a ser uma espinha encravada em muitas gargantas: na oposição ao Governo, na direita nacionalista saudosa de Salazar e na esquerda revolucionária que não lhe perdoa o facto de ter "abandonado" o Partido Comunista, acabando por derrotar Cunhal, em 1975. Também graças a ele posso escrever estas linhas sem ser censurado, com a convicção de que um estadista não pode agradar a todos mas tem que dialogar com todos, deixando o fanatismo ideológico na gaveta. Por isso foi incoerente, tempestuoso, e admitindo que a descolonização possa ter sido mal feita, evitou-se um banho de sangue, veio a paz, a prosperidade europeia e o sabor reconfortante da democracia. Soares não é fixe , é mais do que isso de ser um político, é um eterno inconformado que combateu nas trincheiras da liberdade.