Hipocrisia fiscal
Depois de baixar salários, aumentar a carga horária e diminuir o período de férias, depois de cortar subsídios de férias e Natal, depois de tentar rescisões por mútuo acordo, de pressionar despedimentos e requalificações no sector, naquilo que ficou conhecido como o maior ataque à Função Pública de que há memória, o Governo, num passe de pura hipocrisia, decidiu atribuir um suplemento remuneratório aos funcionários da Administração Fiscal para premiar a produtividade. Sublime ironia: a classe dispensável que pagou a crise e "contribuiu para esvaziar os cofres", que foi salva in extremis diversas vezes pelo Tribunal Constitucional, é agora considerada peça insubstituível na tresloucada máquina fiscal, digno do maior fingimento político, onde alguns funcionários públicos passaram a ser filhos, outros enteados.