Ballet episcopal
Mais de meio século depois do caso Ballet Rose, um novo escândalo de pedofilia volta a atormentar a sociedade portuguesa, agora tendo como protagonista membros da Igreja Católica. E se, durante o Estado Novo, a Igreja manteve o seu papel colaborante com o regime contribuindo para o silêncio, pois apregoava a moral e os bons costumes a todo o custo, actualmente, tem dificuldade em lidar com a verdade e com a evolução dos tempos. Os tiques de impunidade mantêm-se, mas o Ballet Rose deu lugar ao Ballet Episcopal, tal é a leveza com que tratam os abusos de cerca de cinco mil menores durante as últimas décadas. Uma coreografia de encobrimentos, de ocultação, de movimentos fora da realidade, de saltos sobre os direitos da criança, de posições que menorizam as vítimas, num espectáculo deprimente ao melhor estilo do "perdoa-me".