"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
A agressão a um repórter de uma televisão num estádio em Moreira de Cónegos, feita por um empresário com ligações ao FC Porto, fez lembrar aqueles anos negros de 80 e 90, com intimidações e coações sobre jornalistas como Carlos Pinhão, Marinho Neves, Eugénio Queirós e Pedro Figueiredo. Recentemente, também Pedro Neves de Sousa, Valdemar Duarte, João Pedro Silva, Duarte Monteiro e outros profissionais da comunicação social, foram importunados fisicamente e verbalmente por jagunços disfarçados de directores de comunicação e assessores de imprensa. Não só o Ministério Público deve agir rapidamente, como as entidades que regem o futebol castigar os clubes envolvidos, frustrados com os maus resultados desportivos, sob pena de sermos conhecidos como um país de terceiro mundo.
Foi irónico ver as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República, a chamada casa da democracia que recentemente autorizou o Presidente da República a declarar o 15º excessivo estado de emergência em Portugal, concedendo decretos-leis que atentam à nossa liberdade individual e colectiva. Os cravos deviam ser substituídos por urtigas, tanta irritação têm provocado na pele dos portugueses. Reparem bem no desplante, os diplomas do reforço dos apoios sociais devido à pandemia podem violar a Constituição por "aumentarem a despesa do Orçamento de Estado", mas o direito ao trabalho, ao sustento, a direitos básicos de cidadania, o encerramento de vários sectores da actividade económica, de sectores sociais e de saúde já são constitucionais. Antes do 25 de Abril havia ditadura política e a DGS (Direcção-Geral de Segurança), agora existe uma ditadura sanitária e a DGS (Direcção-Geral de Saúde), antes do 25 de Abril não havia férias, agora é preciso um passaporte sanitário para viajar, outrora havia presos políticos, agora existem presos saudáveis confinados, antigamente existiam cadeias de tortura, agora existem cadeias de transmissão, noutros tempos não havia SNS, agora o SNS não consegue servir os cidadãos. Antes do 25 de Abril os símbolos de autoridade foram o polícia, professor, padre e pai, agora as imagens de autoridade são o polícia, os "especialistas" em virologia e os médicos "influencers". "Grândola Vila Morena" foi o gatilho da revolução, o "Vai ficar tudo bem" é a resignação da miséria.
Ao ver ser discutido no Parlamento essa questão tão importante para a humanidade dos políticos serem obrigados a declarar se pertencem a sociedades secretas, cheguei à conclusão que os deputados do PAN e do PSD não têm mais nada para fazer. Os cidadãos não querem saber da vida intima dos políticos, se vestem avental, togas, luvas brancas, se tomam banho de água fria, auto-flagelam-se para sentir a dor ou se andam com um frasco de água benta no bolso, mas apenas cumpram honestamente e com competência a causa pública para à qual foram eleitos. Ainda ontem o meu vizinho de fato escuro que vinha da missa e deixou cair um esquadro, confessou-me uma série de rituais com máscaras e álcool gel, que se descalça ao entrar em casa e desinfecta as compras da loja, contou-me o seu hábito de acender velas em candelabros e ouvir música clássica antes de vestir o avental para adiantar o jantar da família, só aí percebi que deve pertencer à maçonaria ou à Opus Dei!
Foi preciso aparecer a decisão instrutória não definitiva da Operação Marquês para muitos indignados só agora acharem que o sistema de justiça está doente e precisa de reforma. Os revoltados e os peticionários querem queimar o juiz na fogueira inquisitória e ameaçam invadir as ruas. Certamente andam com falta de memória pois não vi tal agitação social no passado perante outros escândalos políticos como o caso Tecnoforma, na ilegalidade na atribuição de fundos públicos envolvendo precisamente um ex-primeiro-ministro, no caso dos submarinos, comprometendo um ex-ministro da Defesa, relativamente ao processo de um concurso público para a aquisição de dois barcos e no caso dos Vistos Gold, implicando um ex-ministro da Administração Interna, com os desfechos que todos nós estamos habituados.
Quase sete anos e 56000 folhas processuais depois, a decisão instrutória da Operação Marquês pariu um rato e muita frustração. O juiz Ivo Rosa fez com que o Ministério Público desejasse esconder-se num buraco, ou utilizando um termo da virologia actual, na área nasal interna vulgarmente conhecida como fossa nasal, tal foi a "especulação, fantasia e total incoerência" da acusação. Eu não sei se José Sócrates é culpado dos crimes que sobram, sei é que de repente surgiram os juízes das redes sociais, os comentadores de taberna, simples cidadãos odiosos e até jornalistas a decretar sentenças, gente que podia cursar Direito, candidatar-se à magistratura ou a outros sectores da justiça para acelerar a lentidão da mesma. Como diz a canção, deve ser qualquer coisa na água que os põe assim!