"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
Os quase 500 mil votos que André Ventura recebeu nas últimas eleições presidenciais escandalizou muita gente que considera a extrema-direita uma ameaça à própria democracia, pois é sinónimo de totalitarismo e desprezadora das liberdades individuais. No entanto, quando repetimos pela décima vez o Estado de Emergência, esses cidadãos indignados submetem-se a uma ditadura sanitária que suspende o exercício de direitos, liberdades e garantias. Ficam confortáveis com a prisão domiciliária da população, o autoritarismo policial e o controle do Estado, fazendo lembrar tempos não muito longínquos do "pai" disciplinador "casado com a Nação" e do bufo delator. A comunicação social é usada para propagar números drásticos e qualquer discurso que difira dos "especialistas" é censurado e apelidado de "negacionista". Neste prepotente Novo Estado, que deveria ser de excepção, devemos manter bom senso, lamentar os mortos mas sobretudo cuidar dos vivos, jamais alimentar a ditadura do medo e do pânico que corrói democracias, nem deixar de questionar decisões erradas que sacrificam gerações futuras.
As eleições presidenciais mostraram que a candidatura de Ana Gomes foi um erro de casting, até Herman José teria melhores resultados, com a certeza que daqui a cinco anos vão apostar no hacker Rui Pinto para Presidente da República. Antigamente, havia o "partido do táxi", agora, o Bloco de Esquerda e o PCP prometem transformar-se no "partido do tuk-tuk". Depois das inúmeras críticas aos jantares-comício de André Ventura, o líder do Chega desta vez cumpriu as recomendações da DGS e em nome do distanciamento social expulsou os jornalistas do hotel que servia de sede à noite eleitoral. Vitorino Silva ficou em último, perdeu na freguesia de Rans, sinal de que os eleitores estavam fartos de pão com manteiga e fiambre e quiseram patê. O CDS e o PSD parecem aqueles jovens que querem fazer parte de um grupo e aparecer afim de ficar com os louros alheios. O partido da abstenção continua no vermelho e foi um dos grandes vencedores, prova de que aquele movimento de homens e mulheres a usar batom vermelho foi um sucesso!
Deve ser caso único, um Governo fechar escolas por causa da pressão de um Presidente da República, de uma comunicação social irracional, de uma sociedade em pânico - mas que já não se importa com os aglomerados nas urnas de voto -, de docentes e pais ansiosos que transmitem medo aos filhos, para reconhecerem que afinal "as escolas não são nem foram o principal foco de transmissão". Já vamos na variante, um novo traçado para a miséria e desgraça que não oferece caminho alternativo, apenas interrompido por campanhas eleitorais e actos políticos, pois segundo o presidente da Assembleia da República, "o voto é um acto de resistência contra o vírus"! O SNS está à beira da implosão, não porque os portugueses se portaram mal no Natal mas devido ao desinvestimento de sucessivos governos, sacrifica-se os mais velhos pois verificamos que a mortalidade nos lares de idosos não diminui e agora estamos dispostos a hipotecar o futuro educacional das gerações mais novas, rebentando com a harmonia familiar e a saúde mental.
Num suposto dia de confinamento, ao ver imagens de milhares de pessoas exercerem o direito de voto antecipado em longas filas, muitas delas sem distanciamento físico algum, potenciando o aumento de infecções da Covid-19, pensei tratar-se de uma cena do filme Regresso ao Futuro, viajando no tempo para um mundo totalmente novo onde o perigo da pandemia já não existia pois a população estava imunizada. Regressando nessa máquina do tempo a 2020, consegui ver que alguns daqueles que se aglomeravam nas mesas de voto eram bufos sanitários, os mesmos que criticaram hipocritamente a festa do Avante, o dia do Trabalhador e os "excessos" do Natal. Perante a gravidade da situação em que vivemos e a consequente falta de racionalidade de tais ajuntamentos, fico à espera de que os especialistas de saúde pública se pronunciem, que os moralistas das medidas drásticas critiquem o "facilitismo" e os "comportamentos irresponsáveis", a não ser que aquela caneta que levaram de casa para as urnas seja uma espécie de varinha mágica com poderes para afastar o coronavírus!
Um surto de Covid-19 infectou algumas monjas que vivem em celas, sem contactos com o exterior, enclausuradas num mosteiro em Campo Maior. Isto para dizer que um vírus respiratório ultrapassa todas as barreiras, mas mesmo assim estamos dispostos a aceitar um novo confinamento limitador das liberdades que vai trazer depressão, pobreza, desemprego, insolvências, colapsando a economia e sobrecarregando a segurança social, apesar de alguns responsáveis da Organização Mundial de Saúde pedirem aos líderes mundiais que parem de usar o confinamento como principal controlo da pandemia. Em 10 meses, o governo não consegue resolver a taxa de mortalidade nos lares mas em meia dúzia de dias prepara os procedimentos eleitorais necessários à recolha de votos dos idosos no próximo dia 24. Agradeço a todos os medrosos partidos portugueses que se mostraram favoráveis ao confinamento, porque eu, como menino bem comportado e submisso, vou aceitar a obrigatoriedade para não agravar a situação pandémica, abstendo-me destas eleições, aconselhando os moralistas do Natal e os indignados da Festa do Avante e do 1º de Maio que se manifestaram contra essas iniciativas políticas do ano passado, a manterem a coerência e a fazerem o mesmo, cumprindo o chavão da DGS: "Proteja-se a si e aos outros, mantendo-se em casa"!
Donald Trump parece aquela cárie que obriga à desvitalização de um dente em vez da sua extracção. Quando parece que finalmente vai deixar de doer, volta aquela "moedeira" irritante, sinal de que ainda existem bactérias, pois ficaram canais e tecidos por desinfectar. A invasão dos seus apoiantes ao Capitólio, símbolo do idealismo democrático americano, ao tentar impedir a ratificação dos voto das eleições presidenciais que deram a vitória a Joe Biden e a consequente transição do poder, é a prova de que eleger um populista demagogo e insidioso é perigoso. Só lamento que as autoridades policiais, sempre tão nervosas no gatilho para outras ocasiões, tenham deixado conspurcar um local que conta a história dos Estados Unidos e dos seus presidentes.
Carlos do Carmo era um homem na cidade, cantava o quotidiano de Lisboa, a sua menina e moça, o Tejo, os seus bairros populares e "os putos deste povo a aprenderem a ser homens". A sua voz contribuiu para o património musical português e depois para que o fado fosse reconhecido como Património Imaterial da Humanidade, internacionalizando-se. Partiu para o Olimpo onde habita Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro, morada de Ary dos Santos, poeta que deu muitas letras aos seus fados, acompanhado pelos gemidos da guitarra portuguesa de "Armandinho" e Carlos Paredes. Carlos do Carmo recriou o fado ao projectá-lo junto de um público mais alargado, para isso incluiu outros instrumentos e mobilizou músicos de outras áreas. "Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera", não morre o fado, o futuro está assegurado por uma nova geração de intérpretes inspirados por um homem que sempre amou a sua cidade e o seu país.