"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
Cavaco Silva comunicou através de sinais de fumo que ele, como primeiro-ministro de um governo, em 1987, esteve "cinco meses em gestão". A mensagem parece apontar para uma decisão, mesmo quando os seus correligionários (aqueles que suspiram por uma "revisão constitucional extraordinária"), desaconselham tal juízo. A fumaça trouxe uma suposta "almofada financeira de dimensão substancial" proporcionada por este Executivo, mas a mensagem do presidente rapidamente se dissipou, afinal soube-se que a bandeira dos "cofres do tesouro cheios" levantada em vésperas das eleições legislativas, não existe, pois a devolução da sobretaxa de IRS deverá ser mínima, ou mesmo de reembolso nulo!
Manifestam-se os empresários, desesperam os banqueiros, berram os patrões e gestores, inquietam-se os preconceituosos, digladiam-se os comentadores de serviço e agitam-se os mercados pois vai chegar o demónio a Portugal em forma de uma coligação política de esquerda. Para alguns "democratas" desta sociedade, devia haver na Constituição um artigo que não permitisse coligações de esquerda preparadas para governar, apenas puritanos de direita. Vejam o delito dos proscritos: dois partidos que nunca governaram aliam-se ao maior partido de oposição para repor salários da função pública e valores do Abono de Família, para actualizar pensões e baixar o IVA da restauração, para eliminar a sobretaxa de IRS e a contribuição extraordinária de solidariedade, para aumentar o mísero salário mínimo nacional e impedir penhoras sobre habitações familiares.
Depois do saudoso Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, ter recorrido à chuva para justificar a desaceleração do investimento em Portugal, no primeiro trimestre de 2013, é agora a vez do estreante ministro da Administração Interna, João Calvão da Silva, dizer, em Albufeira, que a "fúria demoníaca da natureza não foi nossa amiga", pois Deus proporciona uns "períodos de provação". Antes, por ocasião das legislativas, já Passos Coelho mostrava aos eleitores um crucifixo que guardava religiosamente no bolso. Há uma forma desculpabilizante de fazer política em Portugal, onde os governantes apelam à fé e os estadistas entregam o destino do país ao criador do Universo, enquanto nós, comuns cidadãos, só temos direito a sermos tratados como filhos de um Deus menor.