"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
Primeiro a exultação da ministra das finanças Maria Luis Albuquerque dizendo que os "cofres estão cheios", a fazer lembrar os tempos do Estado Novo onde havia ouro mas não havia pão, depois a confirmação do Primeiro Ministro, com vaidade, que quando chegou ao poder, em 2011, "os cofres estavam vazios, não havia lá um tostão". Engraçado que se formos verificar os partidos que estiveram no Governo, desde 1974, além dos socialistas, também encontraremos na lista os correligionários de Passos Coelho, os sociais democratas, e o actual Presidente da República, que ajudaram a escavacar o cofre. Por isso, seria interessante saber como foi possível tal milagre de multiplicação dos pães e peixes, mas temo que isso é dinheiro pedido de empréstimo nos mercados internacionais, da comunhão de alguém que foi "além da troika" e executou uma repressão fiscal. Sim, estamos "cheios", de vocês!
É como um eclipse, quando a lua oculta a luz do sol, como nos sentimos na Terra, parcialmente enganados quando um contribuinte comum é tratado de forma diferenciada em relação aos VIP, uma bolsa de contribuintes "diferentes", sobretudo provenientes da área política. Só colocando os óculos especiais conseguimos vislumbrar tamanha desfaçatez, aqueles protegidos cujo cadastro fiscal foi aplicado um filtro que detecta quem pretenda aceder "indevidamente" à "Bolsa VIP", e os outros, contribuintes "pé de chinelo" que vivem há muito num eclipse fiscal total, sem filtros e vulneráveis, à mercê do confisco desenfreado e muitas vezes humilhante.
O treinador de futebol Vítor Pereira continua a surpreender a Grécia, infelizmente pelas piores razões. Talvez influenciado por alguns clubes onde passou, o Rambo de Espinho "que não tem medo de nada e de ninguém" incendeia bancadas ao provocar os adeptos rivais mas é o primeiro a fugir quando voam objectos e petardos provenientes das claques, em cenas que envergonhariam Stallone. As suas celebrações orgásticas inclusive já obrigaram mais uma vez a jogos à porta fechada. Outro tipo de Rambos estacionaram à porta do Bessa para satirizar as queixas do Guimarães em relação à arbitragem do recente jogo com o Boavista. Com a anuência da Direcção, um grupo de corajosos axadrezados enviaram pelo correio uma caixa de biberões, babetes e fraldas por causa da "choradeira vimaranense". Estes Rambos são falsos, o verdadeiro herói iria do Porto a Guimarães entregar pessoalmente o embrulho, nunca com 50 quilómetros de distância!
Cavaco Silva diz que o caso das dívidas de Passos Coelho são "lutas político-partidárias" agravadas pelo "cheiro de campanha pré-eleitoral". Em Belém, nada de novo, o aroma é conforme a direcção do vento e o sonho laranja de "uma maioria, um governo e um presidente" nunca fez tanto sentido. O homem que nunca se engana e raramente tem dúvidas até disse que os portugueses podiam confiar no BES. O homem de "bom senso que sabe distinguir jogadas político-partidárias" desenha agora o perfil para o próximo Presidente da República, mas já não teve o mesmo olfacto quando criou a controvérsia das supostas escutas do gabinete de Sócrates à sua presidência. Sabemos que para sermos mais honestos do que ele temos que "nascer duas vezes", que a sua pensão não vai dar para pagar as despesas, que não tratou de forma condigna José Saramago e Carlos do Carmo, só não sabíamos que este homem é aquilo que um presidente não deve ser e dizer.
O Zé é um vendedor do interior, de fato e gravata coçados, daquele sítio onde "Judas perdeu as botas". O seu velho carro já não pode circular no centro da capital nem nas ex-SCUT, demasiado caras, apenas conduz nas esburacadas "estradas alternativas". Um dia cessou a sua actividade pois arranjou outro trabalho, não aquele dos seus sonhos - consultor ou gestor - mas algo que permitisse alimentar a sua família numerosa e de parcos recursos. Entretanto foi ameaçado com uma penhora pela Segurança Social sobre o seu automóvel devido a uma suposta dívida. O Zé, dentro da sua ingenuidade, tentava ser um cidadão perfeito, mas não tinha relações para tentar resolver esta questão, apenas conhecia o Mota, o dono do café da aldeia. O Pedro era um político bem falante, às vezes recorria ao teleponto, impecavelmente vestido, de fato e gravata da moda e conduzido por motoristas de bólides pagos pelo erário público. Um dia descobriu-se que tinha uma dívida à Segurança Social, embora prescrita, mas logo um ministro da sua amizade afirmou que este "foi vítima de erros da própria administração". O Pedro não é nem nunca será um cidadão perfeito, já como político tinha obrigação de ser bem melhor e menos distraído.
Primeiro foi o inenarrável líder da bancada parlamentar do PSD, Luís Montenegro, ao dizer, no ano passado, que "a vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor"; recentemente foi António Costa dizer que hoje o país está numa situação "muito diferente" do que em 2011. E se ainda posso compreender, embora incrédulo, as palavras do secretário-geral do PS, ditas num contexto onde estavam investidores chineses, é degradante assistir a este aproveitamento semântico e consequente arremesso político de direita. Não percebo como um país está melhor ao apresentar perto de 30% da população em risco de pobreza ou exclusão social, com metade dos desempregados sem receberam subsidio de desemprego ou rendimento social de inserção, com emigração, pobreza, desigualdade e desmantelamento dos serviços públicos. Claro que há melhorias: na máquina partidária, na militância, nos boys, nas assessorias e na carteira dessa rede clientelista.