"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
Uma fábrica que transforma subprodutos animais decidiu multar os seus trabalhadores se trouxerem a barba por fazer. Duvido que neste regulamento interno tenham sido ouvidos a comissão de trabalhadores ou as comissões sindicais, conforme o Código de Trabalho aconselha, como também acho estranho a administração já ter vindo a público dizer desconhecer esses comunicados. Será certamente um lapso da sua organização interna, semelhante ao imbróglio da atribuição da sua licença ambiental...
Não deixa de ser irónico que, a empresa que mais inferniza a vida das populações dos concelhos da Trofa e da Maia - através do odor pestilento que exala para a atmosfera -, vir preocupar-se com a quantidade de pêlos faciais dos seus empregados, como isso fosse sinónimo de sujidade. Já sabia que alguns enriquecem à custa da exploração animal, só não sabia que também já se enriquece à custa da violação da lei laboral e da flexibilidade.
A deliberação do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em Estrasburgo, contra a presença de crucifixos nas salas de aula, foi encarada pelo Vaticano e pelo clero português como uma perseguição ao cristianismo. Mais realista, o cardeal patriarca de Lisboa disse que não foi a Igreja que colocou os crucifixos nas escolas, ou seja, compete aos governantes fazer cumprir a lei expressa na Constituição da República - a separação entre credos religiosos e o Estado, no nosso caso, laico. Mais recente, a Lei da Liberdade Religiosa é taxativa: o Estado não pode propagandear ou adoptar qualquer religião. Numa sociedade cada vez mais multicultural, não tem sentido que a maioria e a tradição imponham a sua vontade, oprimindo o direito à diferença. Não serão os símbolos religiosos uma espécie de evangelização forçada em estabelecimentos públicos como escolas e hospitais e, consequentemente, uma castração da liberdade individual?
Robert Enke veio para o Benfica para substituir o extraordinário Michel Preud'homme e não defraudou as expectativas. Pelo seu talento e qualidade foi chamado à selecção alemã, lugar por onde passaram grandes lendas como Harald Schumacher. Terá vivido os dias mais felizes em Lisboa, longe de imaginar a tragédia que iria irremediavelmente afectar a sua vida e da família. Apesar da sua juventude, a adaptação a um novo país e a falta da conquista de títulos desportivos, nunca foi impedimento para dar todo o seu empenho e profissionalismo dentro do campo. Fora dele, era o expoente máximo de bondade, pois dividia-se entre projectos de solidariedade e o amor aos animais, sem esquecer as preocupações com o meio ambiente. Guardarei na memória a chegada à Portela de um Homem com cara de menino, à procura da glória num clube enorme, tão grande como o seu coração.
A crise do Sporting CP não é somente devido às más políticas desportivas mas também devido ao resultado dos dividendos do plano Roquette, denunciado por João Rocha - uma aliança com o amigo FC Porto visando apear o Benfica dos títulos nacionais. Aliás, se reflectirmos bem, o alvo da fúria leonina é sempre o vizinho da 2ª Circular, comprovado pelos discursos miserabilistas do seu presidente, a caminho de ser o mais incompetente da história do Sporting. Um certo aburguesamento dos seus responsáveis e a mania de pensarem que são diferentes, levam o clube a ser relegado para 3º grande de Portugal. O Sporting deve continuar a apostar nos seus escalões jovens de formação, na profissionalização da sua estrutura futebolística - inovando, de forma a arranjar novas fontes de receitas e blindando o clube afim de evitar guerrilhas internas, possibilitando a união de todos os sportinguistas em prol dos objectivos traçados.
As palavras do Eng. Van Zeller, Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, de que "os salários baixos são necessários para 25% das nossas exportações", opondo-se veementemente ao aumento do salário mínimo, é de quem fala de barriga cheia, pois não se encontra entre aqueles 300 000 trabalhadores que auferem 450 euros mensais.
O senhor saberá que a maior parte dos patrões portugueses tem uma baixa escolaridade aliada a uma ainda pior qualificação profissional? Não será isto o verdadeiro entrave ao desenvolvimento empresarial do mundo moderno e às consequentes exportações que tanto apregoa? No país dos patrões e dos doutores, é bom relembrar que o mero trabalhador é o dínamo de qualquer empresa, e também por isso, deve ser condignamente pago e motivado.
Travestido de "quadro superior", o patrão português almeja ser um empresário de sucesso - com um ar sério e a característica gravata da moda -, mas o que melhor consegue fazer é aumentar o fosso entre os salários dos trabalhadores e os de topo. Resquícios do Estado Novo onde faltam-lhes destreza, criatividade, inovação, e fundamentalmente, empatia.
O País entrou em êxtase com a derrota do Benfica em Braga, a contar para o campeonato nacional de futebol. O País? Não, talvez os adeptos do 2º maior clube nacional: os anti-benfiquistas. Sei que 200.000 sócios devem fazer doer a cabeça a muito boa gente e reduzem alguns à sua pequenez, mas não sabia que na cidade dos Arcebispos se tomavam as dores dos outros. Os caciques do futebol nacional que se cuidem: a mística encarnada que enche estádios está de volta, pronta a triturar esta espécie de aspirantes a papas que fazem do desporto uma guerra e que criam ambientes de inspiração siciliana. Quero acreditar que o apito tendencioso calar-se-á, quando for exposto no exterior e cair no ridículo. Com ele, os lacaios de serviço espalhados pelas diversas áreas da sociedade, agudizarão a caminho do exílio. Portanto, rejubilem enquanto podem...