"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi". (Henry David Thoreau)
Nesta altura do ano surgem sempre os detractores da Revolução de Abril - uma espécie de saudosistas do Estado Novo - pois "antigamente é que era bom", dizem eles. Como se 40 anos de obscurantismo não tivessem atrasado irremediavelmente o País e a Pide fosse uma qualquer organização sócio-cultural! Esta nostalgia serôdia dá náuseas e piora quando falam com desdém do "excesso de liberdade" e da democracia.
Mas será que esta gente não se lembra do que acontecia no tempo do pseudo-estadista? A colagem ao fascismo, as repressões políticas e públicas com a vergonhosa conivência da igreja católica, a censura literária, a educação baseada num nacionalismo bafiento, da interminável Guerra do Ultramar e do obsessivo colonialismo.
Actualmente parece que entramos num processo de regressão pois inauguram-se ruelas com nomes de ditadores existindo também regiões do País que ignoram a data. Convém explicar às gerações futuras que a História não pode voltar a repetir-se e que a morte de homens como Humberto Delgado não pode ter sido em vão.
A morte do artesão José Franco, criador das miniaturas da aldeia saloia de Sobreiro, foi uma grande perda para a olaria, cerâmica e escultura portuguesa. O mestre teve uma infância difícil e um fim de vida indigno para o enorme talento, qualidades humanas e reconhecimento internacional que granjeava. Dedicou vários anos da sua vida à arte e à sua pequena aldeia, menina dos seus olhos. Mesmo assim quiseram afastá-lo e negar-lhe o desejo de criar uma fundação que o seu maravilhoso património exigia. Não realizou o sonho de abrir uma escola de formação para a juventude mas imortalizou eternamente o nome do país. Nas palavras do escritor brasileiro Jorge Amado, “um português que nasceu com o dom misterioso da beleza e a distribui como um bem de todos”.
No mundo actual, onde o egoísmo e o materialismo imperam, o artista deu uma extraordinária lição de vida à sociedade e porque não dizer à sua família.
A eliminação do FCP da Liga dos Campeões às mãos do Manchester foi uma situação perfeitamente normal apesar da boa réplica dos portistas. A anormalidade foi o comportamento de jornalistas e comentadores da estação televisiva pública que transmitiu os dois jogos. Sob a capa de um pretenso patriotismo, relataram os jogos com uma parcialidade gritante misturada com laivos de histeria e sofrimento. Com uma arrogância desmedida quiseram condicionar o desfecho do último jogo pois já levavam no bolso o cachecol da praxe. Inveja, dizem os seus apoiantes, falta de ética profissional dizem outros.
Torna-se mais grave quando isto acontece numa entidade pública que absorve os nossos impostos. Se querem funções que não colidam com a sua integridade profissional entreguem as carteiras profissionais como alguns fizeram no passado e sigam novo rumo nas suas vidas.
A decisão do Tribunal de Gaia, no "caso do envelope", não proclamou vitória de ninguém. O encontro de um presidente dum clube com um árbitro foi catalogado pela juíza como suspeito e imprudente, mas em caso de dúvida beneficia-se o réu. Poder-se-á dizer que a justiça actual não cumpriu o seu principal mandamento: igualdade de todos os cidadãos perante a lei, ou seja, existem testemunhas mais credíveis do que outras pois o impoluto político ou dirigente desportivo vive num patamar de moralidade social superior!
Juntando uma pitada de incompetência do Ministério Público à mediatização instrumentalizada, temos uma falácia perfeita. O pior é quando o poder judicial é desacreditado na opinião pública, pois essa há muito tempo que fez o seu julgamento e está farta de acreditar em conspirações orquestradas.
O mandado de captura do Tribunal Penal Internacional contra o presidente do Sudão, culpabilizado pelo genocídio na região do Darfur, foi desprezado pela Liga Árabe. Quase meio milhão de pessoas foram assassinadas ou morreram devido à guerra e doenças. Mais de dois milhões e meio tornaram-se refugiados, destruíram-se centenas de aldeias e cometeram-se hediondos crimes contra a humanidade. Não percebo o silêncio ensurdecedor de parte dos países vizinhos e muito menos o vergonhoso papel da China como voraz consumidor de petróleo desse país e principal fornecedor de armamento. Caciques que se perpetuam no poder sob o falso pretexto da ameaça do novo colonialismo acendendo o rastilho do conflito étnico-cultural. Esquecem-se eles que, da forma menos ortodoxa como chegaram ao poder, mais tarde ou mais cedo vai-lhes acontecer o mesmo pois existe sempre um ditador pior do que outro. E África continua a ser o eterno oprimido…