Ode à hipocrisia
Declamou-se poesia no Coliseu do Porto num palanque de gala. Por um instante pensei que fosse José Régio e o seu "Cântico Negro", mas não, foi algo mais profundo, roçando a hipocrisia. A propósito da entrega dos Dragões de Ouro, entre alguns sorrisos amarelos e a presença deslocada de ministros do Governo sentados em cadeiras de sonho desconchavadas, ovacionou-se um treinador de futebol que no passado foi acusado pelo presidente do seu anterior clube de fugir para Londres com "medo do fantasma de Mourinho", de "ser goleado pelo Barcelona", que "se lhe corresse mal a Champions ninguém o queria", que "quando se pensa num grande da Europa, não se pensa no Chelsea". Alguém diga ao orador que não se escrevem prefácios tão foleiros.